Friday, March 13, 2009

Vá com Deus, Dona Elza!


Recebo, com tristeza, a notícia da morte de D. Elza Hergert, ao chegar na redação na tarde desta sexta-feira, 13. Ela faleceu aos 108 anos e dois meses. Era a pessoa mais idosa de Limeira e talvez, da região. Em sua longevidade, Dona Elza viu pessoas queridas e próximas partirem, e além da saudade, conservou uma lucidez impressionante.

Tive a honra de ter sido destacado, em fevereiro de 2001, de fazer a matéria de seu centenário de vida. Busquei o arquivo e o texto, como foi publicado, segue:



Elza Hergert: uma história de 100 anos

Matriarca de ascendência alemã comemora hoje o seu centenário e contabiliza 12 netos, 20 bisnetos e seis tataranetos

Assis Cavalcante

Com tanta visita que passou a receber nos últimos dias, dona Elza Martha Hergert Hornhardt, que hoje completa 100 anos, não pode se dedicar a alguns de seus passatempos preferidos: a novela das 18h, da TV Globo, e o "Programa do Ratinho", no SBT. Tanta visita deve-se à ocasião especial em que dona Elza vive, ou seja, o aniversário de seu centenário, cuja comemoração marcada para as 19h30 de hoje no Paulistano Futebol Clube, mobilizou nos últimos dias os muitos amigos, parentes e convidados.
Tida como uma das pessoas mais queridas do bairro Boa Vista (onde vive há 80 anos), dona Elza Hergert nasceu no bairro Ribeirão do Pinhal, zona rural de Limeira em 6 de fevereiro de 1901. Seu sotaque alemão deve-se à herança paterna: seus pais eram os agricultores Richard Hergert (natural de Zwickau, Alemanha) e Bertha Krahner Hergert (brasileira, filha de alemães). Ela foi batizada em 23 de março de 1901 pelo pastor evangélico Frederico Müller na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no bairro dos Pires, em Limeira.
Dona Elza Hergert teve sete irmãos e seis irmãs, dos quais, apenas ela e mais quatro continuam vivos. Em 17 de setembro de 1921, casou-se com Otto João Henrique Hornhardt. O casal teve os filhos Otto Ricardo, Ademar Emílio e Bruno Octavio (dos três, é o único que continua vivo). Após oito anos de casamento, ela ficou viúva, com a morte de seu marido aos 28 anos por causa da febre tifo. Em 27 de janeiro de 1941, ela casou-se pela segunda vez com Arnaldo Marostegan, com quem teve o quarto filho, Célio Luiz Marostegan.

"Minha terra é o Brasil"

Maria Aparecida Marostegan Groppo, filha do segundo marido, também foi criada por Elza, que hoje contabiliza 12 netos, 20 bisnetos e seis tataranetos. E qual o segredo de tanta longevidade: a alegre senhora, que esbanja saúde e lucidez responde: uma vida simples e com alegria. "Se o Mundo vivesse bem assim como eu vivo, ele seria outro, muito melhor", diz. Ela corda sempre às 7h, e depois de tomar o café da manhã vai varrer o quintal e cuidar das várias plantas. "Quando o sol esquenta, eu entro e vou cuidar das coisas".
A visão, segundo ela, "está melhor um dia e um pouco ruim no outro", mas nunca usa óculos. Ela orgulha-se de passar a linha na agulha. Adora fazer bonecas de pano. No último Natal, distribuiu 12 para as bisnetas e tartaranetas. Depois de assistir televisão, recolhe-se em torno das 22h. Segundo ela, quase todas as pessoas que moravam na Boa Vista ou que nasceram nos anos seguintes já morreram. Muitos, (assim como o marido Otto) foram vitimados pela febre tifo devido à falta de boas condições sanitárias na década de 20.
"Naquela época, não tinha rede de esgoto, e a gente usava latrina. Quando chovia, a chuva levava a enxurrada da Boa Vista (que não tinha pavimentação) para as partes baixas. "Já havia água encanada, que vinha de uma represa no bairro Cascalho em Cordeirópolis, mas era muito ruim", recorda. Muitos recorriam a poços que havia na Rua Augusto Jorge e até mesmo na Rua 25 de Março, onde vive. Com a contaminação da água, todos eles foram fechados. Dona Elza garante que nunca teve vontade de visitar a terra de seu pai. "A minha Alemanha é o Brasil, e minha terra é Limeira", diz com convicção.

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