Sunday, November 14, 2010

O deputado, esse ser emblemático


Numa das cenas mais instigantes do recém-lançado Tropa de Elite 2, o agora grisalho capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, dá uma surra em um deputado corrupto. A estreia do filme do cineasta José Padilha está chegando ao recorde de público no cinema nacional, mas não é sobre cinema que vou discorrer neste texto. O deputado cretino que apanha do policial durão é uma metáfora do desejo oculto de cada brasileiro. Quem de nós não gostaria de socar um desses figurões que aparecem nos noticiários sempre atrás de denúncias de corrupção, onde arrebanham para proveito próprio verba pública que sai de nossos bolsos ou desdenham das leis? Capitão Nascimento, nessa cena, representa cada um de nós. É como a megera da novela da Globo que apanha da mocinha, e faz a audiência subir. Nossa ira está estampada em cada tapa desferida. Ah, os sentimos vingados com cada sopapo. Ainda não vi o filme, evidentemente. Mas pretendo ver. Não pelo deputado, mas para ver a abordagem de assuntos polêmicos, que enveredam sobre corrupção policial, violência, enfim. Mas a citação do deputado na situação é oportuna, mesmo porque acabamos de escolher novos postulantes aos cargos nas esferas estadual e federal. O cargo é tão disputado que quase duas dezenas de nomes concorreram para ele, em Limeira. E tanta gente acabou dividindo voto que ninguém foi eleito pela cidade. Mais uma vez. Tanta gente querendo a mamata, que nessas eleições, tivemos personalidades de várias áreas se aproveitando da popularidade. Alguns se deram bem. Mas quem, afinal, é essa figura emblemática que carrega tanta aura? Merece a tarja caricata empregada por João Plenário, o personagem assumidamente sem vergonha, sem ética, sem caráter e sem um monte de coisas do humorístico "A Praça é Nossa", do SBT? Sabemos que esses senhores ganham muito bem, têm imunidade parlamentar (gozam de ampla liberdade, autonomia e independência no exercício de suas funções). A Justiça tem que pedir licença à Câmara ou ao Senado para processar seus membros. Quando estão envolvidos em questões polêmicas e correm o risco de perder o cargo, sempre são inocentados pelos colegas do plenário, em situações explícitas de corporativismo. Muitos dos senhores que foram eleitos para esses cargos carregam um histórico de falcatruas que poderia colocá-los em outro local, mas o manto parlamentar os protege. Esse foi um dos fundamentos para a lei da ficha limpa, que ainda dá o que falar e vai deixar muitos sem cargo. Deputados já foram citados em casos onde utilizam verba pública de suas contas para pagar passagens aéreas para namoradas, superfaturamentos em licitações públicas, desvios de verba, mensalões, dinheiro na cueca, faltas nas sessões, enfim, uma infinidade de atos que envergonham (ou deveriam) a cada brasileiro. Quando, finalmente vão presos, logo saem da cadeia. Mesmo com a sujeira nas costas, são reeleitos. Não é à toa que ele está numa recente capa de Veja: capitão Nascimento é o Jack Bauer brasileiro, aquele que não espera os trâmites burocráticos e não tem medo de resolver a parada ali mesmo. Seja sufocando o traficantezinho com saco plástico ou socando o playboyzinho que sustenta o tráfico. Ou socando o tal deputado. Pena, que apenas na ficção.

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